sábado, 17 de agosto de 2013

EXPLODIR O SOL COM UMA BOMBA NUCLEAR ? DUPLA DE PESQUISADORES TEM A RECEITA! ( Artigo Científico )


13/08/2013 - 17:21

Pesquisas


Estudo mostra que o envio de uma bomba nuclear suficientemente forte para o interior do Sol pode dar início a uma reação em cadeia capaz de varrer o Sistema Solar. Pesquisadores da área, no entanto, são céticos quanto à ideia

Guilherme Rosa
Detalhe de explosão solar registrada pela Nasa na quarta-feira
Segundo a pesquisa, os seres humanos seriam capazes de induzir uma explosão no interior do Sol, que poderia levar à destruição da Terra. Para os pesquisadores da área, a ideia é mais próxima da ficção científica do que da astrofísica(NASA / AFP)
Que tal explodir o Sol? Uma dupla de pesquisadores pensou nisso, e se atreveu a publicar um estudo detalhando a técnica, que consumiria todo o Sistema Solar — incluindo a Terra e a vida em sua superfície — em uma imensa bola de fogo. Para isso, a dupla formada por Alexander Bolonkin e Joseph Friedlander imaginou o lançamento de uma bomba nuclear capaz de percorrer toda a distância que separa a Terra do Sol, resistir ao calor e à radiação local e chegar ao coração do astro. Ali, uma explosão atômica daria início a uma reação em cadeia, levando a estrela a gastar todo o seu combustível em instantes e explodir em uma espécie de supernova artificial. A ideia parece fruto da mais pura ficção científica e, segundo outros cientistas, é simplesmente disso que se trata: pura especulação.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Explosion of Sun

Onde foi divulgada: periódico Computational Water, Energy, and Environmental Engineering

Quem fez: Alexander Bolonkin, Joseph Friedlander

Resultado: Os pesquisadores imaginaram um método capaz de induzir uma reação nuclear em cadeia no interior do Sol. Se o calor produzido fosse suficiente, poderia levar à explosão do astro.
Os dois pesquisadores que escreveram o artigo não são conhecidos por estudar ofuncionamento do Sol, das estrelas ou das bombas nucleares. Ao contrário, Alexander Bolonkin possui um doutorado em engenharia aeronáutica, com especialização em ciências da computação e matemática, enquanto Joseph Friedlander é um empresário com conhecimentos de computação. A pesquisa foi publicada na revista Computational Water, Energy, and Environmental Engineering, um periódico chinês que é conhecido por não seguir os mais rigorosos processos de revisão. Às vezes encontra-se algo interessante por ali, mas na maioria das vezes o joio supera o trigo.
Ainda assim, a pesquisa chamou atenção quando foi publicada, principalmente por causa da ideia que é esboçada: os seres humanos seriam capazes de provocar uma explosão definitiva e arrasadora no Sol. "A humanidade tem temores, alguns mais e outros menos justificados, sobre a queda de asteroides, o aquecimento global e extinções. Todos esses cenários, no entanto, podem deixar alguns sobreviventes — mas ninguém pensa que a aniquilação completa do Sistema Solar não deixaria uma única pessoa viva", escrevem os pesquisadores, conscientes do impacto de sua ideia.
Desequilíbrio estelar — Sabe-se que 75% da massa do Sol é composta por átomos de hidrogênio. Sob a imensa gravidade e o calor no centro do astro, essas partículas se fundem, criando átomos de hélio e liberando uma enorme quantidade de energia (a reação é semelhante à que acontece no lançamento das bombas de hidrogênio, milhares de vezes mais poderosas que a bomba lançada sobre Hiroshima). É esse processo que fornece todo calor e luz liberados pelo Sol e que permite que haja vida na Terra.
Acontece que, segundo o estudo, a taxa de fusão dos átomos de hidrogênio é maior conforme aumenta a densidade e a temperatura da estrela. Assim, a queima do combustível estelar segue uma espécie de equilíbrio: quando o núcleo do Sol se aquece demais, ele também se expande, diminuindo a taxa de fusão do hidrogênio. A menor taxa de fusão provoca uma diminuição da temperatura e um aumento da densidade, levando, novamente, uma aceleração nas fusões. A ideia dos pesquisadores é que esse equilíbrio estelar pode ser perturbado.
Eles propõem que a explosão de uma bomba nuclear no interior do Sol poderia criar uma região de temperatura e densidade muito altas, capaz de dar início a uma cadeia de reações nucleares autossustentáveis, que se espalhariam pelo inteiror e superfície solar. O aquecimento resultante poderia fazer a temperatura da estrela atingir mais de um bilhão de graus Celsius, o que levaria à sua explosão completa.


Os pesquisadores da área, no entanto, não levaram a ameaça imaginada pelos pesquisadores muito a sério. Segundo José-Dias do Nascimento, professor de astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisador visitante na Universidade Harvard — ele, sim, especialista na física solar —, os números que os pesquisadores apresentam para dar suporte à sua ideia parecem um tanto exagerados. A ideia de uma reação em cadeia capaz de explodir o Sol ainda precisa ser confirmada, e a energia necessária para dar início a um processo desses é muito maior do que a que os seres humanos são capazes de produzir. "A pesquisa me parece pseudociência", diz José-Dias.
Ditadores malucos — A justificativa dada pela dupla para a pesquisa foi a de alertar quanto ao perigo de alguma mente diabólica ou de um ditador com os recursos necessários poder colocar em prática a implausível ideia. Em 2007, o diretor Danny Boyle (vencedor do Oscar pelo filmeQuem quer ser um milionário?), retratou algo semelhante no filme Sunshine, mas com o objetivo contrário. Em um futuro no qual o problema é uma glaciação global causada pela baixa atividade solar, a única esperança da humanidade é lançar uma gigantesca bomba nuclear no sol, para "reativá-lo". O filme foi mal nas bilheterias.

Opinião do especialista

José-Dias do Nascimento
Professor de astrofísica do departamento de física teórica e experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisador visitante na Universidade Harvard, nos Estados Unidos


“O estudo foi publicado em uma revista que não é de astrofísica e nem de física nuclear. Nenhum dos pesquisadores envolvidos é dessas áreas e nem pertencem a instituições que estudam esses assuntos. Além disso, os números apresentados no estudo são exagerados. Teoricamente, nós sabemos que é possível explodir o Sol, mas a quantidade de energia necessária é muito maior do que a que podemos produzir aqui na Terra. A pesquisa me parece pseudociência.”
 
FONTE: Revista Veja/Ciência e Tecnologia

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