sexta-feira, 7 de junho de 2013

O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO NOS MUNICÍPIOS DE ACARI, PARELHAS E CARNAÚBA DOS DANTAS NO RIO GRANDE DO NORTE ( Meio Ambiente )

DESERTIFICAÇÃO
Ítalo Batista da Silva/Antônio Cândido filho

RESUMO
O ambiente no planeta terra sempre esteve em constantes transformações naturais. Com a consolidação do homem enquanto ser pensante, o desenvolvimento de técnicas e ferramentas de caça e agricultura, a mãe natureza vem perdendo, ao longo de décadas, muito do que levou milhares de anos para construir. O fenômeno da desertificação é um processo de degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultantes de vários fatores. Neste trabalho contemplam-se as causas e efeitos deste fenômeno na Microrregião Homogênea do Seridó no Estado do Rio grande do Norte (RN), classificada como zona “muito grave” pelo Plano Nacional de Combate à Desertificação (PNCD), em atenção especial aos municípios de Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas, todos no Rio Grande do Norte, inseridos em um dos núcleos de desertificação existentes no Nordeste, tendo como objetivo principal caracterizar as cidades em estudo quanto ao seu processo de desertificação, através de indicadores ambientais, sociais e econômicos, bem como propor possíveis formas de combate a esse problema.
Palavras-chave: Acari,Carnaúba dos Dantas e Parelhas no RN; desertificação; indicadores ambientais, sociais e econômicos.
  1. INTRODUÇÃO
O ambiente no planeta terra sempre este em constantes transformações naturais. São mudanças pertinentes a sua própria vida e a sua própria história, desde os princípios dos tempos, nos quais as transformações que se seguiram: a separação dos continentes, a era glacial, a extinção dos dinossauros, o surgimento dos homicídios, tornavam o meio ambiente senhor de seu próprio destino.
Com a consolidação do homem enquanto ser pensante e o desenvolvimento de técnicas e ferramentas de caça e agricultura, a natureza vem perdendo, ao longo de décadas, muito do que levou milhares de anos para construir. Florestas, rios, fauna e flora têm sido violentamente, agredidas, destruídas e extintas em nome do progresso e do dinheiro.
Estas agressões têm deixado seqüelas e cicatrizes, algumas irreparáveis, outras que necessitam de tratamento longo e muito caro. Uma delas é o processo de desertificação em vários pontos no planeta.
Segundo Araujo (2002), na Agenda 21, no seu capítulo 12, definiu a desertificação como sendo “a degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e subsumidas secas, resultantes de vários fatores, entre eles as variações climáticas e atividades humanas”. Por degradação da terra se entende a degradação dos solos e recursos hídricos, da vegetação, biodiversidade e a redução da qualidade de vida das populações afetadas (Ministério do Meio Ambiente, 1999).
A convenção de Combate a Desertificação, reunida em 1994 e a Agenda 21 caracterizaram este processo sendo resultante de fatores diversos tais como as variações climáticas e as atividades humanas. E delimitou a problemática da desertificação já a 33% da superfície terrestre, o equivalente a uma área de 51.720.000 Km², atingindo aproximadamente 100 países em todos os continentes habitáveis, colocando fora de produção, cerca de 6 milhões de hectares por ano, devido ao sobrepastoreio, salinização dos solos por irrigação inadequada e pelo uso intensivo e sem manejo adequado do mesmo pela atividade agrária, dentre os uso mais nocivos ao ambiente podemos citar:
  • Uso intensivo dos solos, tanto na agricultura moderna, quanto na tradicional;
  • Cultivo em terras inapropriadas tais como pendentes, ecossistemas e matas remanescentes;
  • Pecuária extensive;
  • Desmatamento em área com vegetação nativa, áreas de preservação, margens rios etc e
  • Praticas inapropriadas de irrigação, particularmente sem o uso de drenagem mineração.
Dentro deste contexto podemos enfatizar que todos esses elementos estão atualmente, num contexto onde:
  • As populações das regiões semi-áridas estão entre as mais pobres do mundo;
  • As tecnologias utilizadas não se adequar, em muitos casos, as restrições de recursos naturais características dessas áreas e
  • A inserção das regiões secas aos mercados nacionais e internacionais vem estimulando a super-exploraçao dos recursos dentro do sistema produtivos tradicionais e com baixo nível tecnológico.
O Brasil possui uma área de 982.563,3 Km² em todo seu território, sendo que 11% deste total, esta localizado na região do semi-árido do Nordeste Brasileiro, estando assim sujeito ao fenômeno da desertificação. Segundo dados apontados pelo Projeto PNUB/BRA/93/036, o Nordeste do país já apresenta cerca de 180.000 Km² de áreas com processos considerados como graves e muito grave de degradação, sendo que 18.740 Km² apresentam sinais intensos muito preocupantes – os chamados núcleos de desertificação – localizados em Gilbues/PI, Irauçuba/CE, Cabrobo/PE e Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas/RN.
O Rio Grande do Norte-RN, por possuir a maior parte de sua área enquadrada nos tipos de clima já citados, pode ser considerado como bastante representativo dessa problemática ambiental. A desertificação neste estado representa uma área de 40%, sendo como principais fatores deste processo a extração de argila e a retirada da cobertura vegetal para a obtenção da lenha que é utilizada nas olarias (indústria de cerâmica) e padarias, acelerando ainda mais o fenômeno da desertificação.
O Prof. João Vasconcelos Sobrinho, tem sido considerado um dos pioneiros nos estudos sobre desertificação no Brasil. Seus estudos tiveram início com a publicação em 1971, da monografia com o título Núcleos de Desertificação no Polígono das Secas, onde apresenta as primeiras idéias sobre os núcleos de desertificação.
A formulação da categoria de “Núcleos de Desertificação” foi um dos artifícios utilizados pelo autor, com vistas a permitir melhor aproximação com o fenômeno e permitir uma abordagem em nível local.
Além da questão espacial, é importante levar em conta a questão metodológica, o fato de que os Núcleos constituem o “Efeito Maximo do processo de degradação e seu indicador mais importante”.
O Prof. João Vasconcelos classificou a realidade do Nordeste em seis núcleos de desertificação, sendo que o Rio Grande do Norte ficou sendo a área piloto 3 – Com os municípios de Currais Novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaúba dos Dantas, Jardim do Serido e outros municípios vizinhos. Estes territórios estão incluídos nas categorias grave e muito grave de ocorrência de desertificação, observando-se processos de degradação ambiental de importância considerável. De uma maneira geral, identificam-se atividades de alto potencial de degradação, tais como a mineração e agropecuária tradicional e o extrativismo vegetal, que causam sérios problemas de erosão e seus conseqüentes impactos sobre os recursos hídricos existentes. Por outro lado, nos perímetros irrigados já são detectados significativos impactos causados pelo uso excessivo de mecanização e de defensivos agrícolas em grandes quantidades, além da salinização dos solos devido ao emprego de técnicas inadequadas de irrigação e drenagem.
Deve-se destacar que se localiza no Rio Grande do Norte uma das áreas do Nordeste, que pela gravidade da situação, como já citado, é considerada como núcleo de desertificação, mais especificamente na região do Serido. Nela estão inseridos os municípios de Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas, todos do RN, objetos de estudo deste trabalho.
  1. METODOLOGIA
A pesquisa pura e aplicada aos municípios de Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas no Rio Grande do Norte - RN. Primeiramente foi feita uma revisão bibliográfica acerca da problemática da desertificação em nível mundial, nacional, regional e local. Logo depois foi programado visitas as áreas afetadas pelo fenômeno da desertificação ou que estão susceptíveis ao mesmo. Entrevista com os moradores mais antigos do município para verificar a variação climática e com os secretários de agricultura de cada cidade para identificar as áreas mais afetadas. Em seguinda, realizamos uma catalogação por meio de fotografias das atividades, flora e fauna da região e do local em estudo. Análise de dados estatísticos da situação da retirada de lenha e produção de carvão mineral. Diagnostificamos dados estatísticos das características da agricultura e pecuária. Por fim, consultamos órgãos relacionados ao meio ambiente para obtenção de dados do município em estudo.
  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nossos estudos foram direcionados para o Seridó Oriental do Rio Grande do Norte – RN, localizado na Província da Borborema, nesta Ecorregião estão presentes os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.
Acompanhando os passos do Prof. Vasconcelos, determinamos nossa espacialidade para as cidade de: Carnaúba dos Dantas – RN (ver Figura 2) , com uma população de 7.429 habitantes, em uma área de 246 Km², sendo essa população distribuída em 6.028 habitantes em área urbana e 1.401 na área rural, esta a 306 m ao nível do mar e esta a 6° 33’ 20” de latitude e 36° 35’ 42” de longitude, seu bioma é a Caatinga; Parelhas – RN (ver Figura 3), com uma população de 20.354 habitantes, em uma área de 513 Km², sendo essa população distribuída em 17.084 habitantes na área urbana e 3.270 habitantes na área rural, esta a 266 m ao nível do mar e esta a 6° 41’ 16” de latitude e 36° 39’ 27” de longitude, seu bioma é a Caatinga e Acari – RN (ver Figura 1), com uma população de 11.035 habitantes, em uma área de 609 Km², sendo essa população distribuída em 8.865 habitantes na área urbana e 2.344 habitantes na área rural, esta a 270 m ao nível do mar e esta a 6° 26’ 08” de latitude e 36° 38’ 20” de longitude, seu bioma é a Caatinga. Estes municípios estão incluídos no Semi Árido Nordestino e são considerados municípios em estado elevado de desertificação. Em Carnaúba dos Dantas, por exemplo, existe um total de 23 cerâmicas, em Parelhas mais 32 cerâmicas e em Acari um total de mais 09 cerâmicas, que tanto consomem barro e lenha (ambos os produtos são extraídos dos açudes e das matas nativas da região). Segundo dados do SEBRAE-RN, Estas cerâmicas juntas num total de 64 geram diretamente 2.240 empregos e mais 512 indiretamente, perfazendo um total de 2.752 empregos na região do Seridó.
Figura 1 - Vista aérea da cidade de Acari – RN.
Figura 2 - Vista aérea da cidade de Carnaúba dos Dantas – RN.
Figura 3: Vista aérea da cidade de Parelhas – RN.
Até o final dos anos 70 a economia destes municípios era direcionada para a produção de algodão e a extração de tautalita, berilo, feldspato e mica (malacaneta). Atualmente, a maior obtenção de renda é a indústria ceramista. Segundo o Plano de Desenvolvimento do Seridó (2010), os municípios estão entre os maiores produtores de cerâmica da região.
Outro aspecto de importância é a arqueologia que vem se apresentando com um expressivo potencial turístico, juntamente com o turismo religioso.
Vários fatores, naturais ou não, contribuíram e contribuem para se alcançar tal quadro. Entre os naturais está o clima que é quente e semi-árido, com a ocorrência das secas estacionárias, geralmente no segundo semestre de todos os anos, e as secas periódicas, que não têm ano certo para ocorrer e caracterizam-se pela irregularidade ou falta de precipitações durante a estação chuvosa. A distribuição de chuva irregular coopera para a escassez de água. Entre as soluções encontradas para esse problema, está a perfuração de poços, principalmente no leito dos rios. Outra é a construção de açudes e barragens, prática que é favorecida pelo relevo da região. Uma terceira alternativa é a construção de cisternas nas residências. Além do clima, os solos, em sua maioria, apresentam-se rasos e pedregosos, com baixa capacidade de retenção de água. Em muitos locais dos municípios, o desgaste da terra provocou o afloramento das rochas, tornando impossível o cultivo agrícola.
A região apresenta pluviosidade anual baixa, enquanto a irradiação solar e evapotranspiração altas.
Atualmente, uma questão inquietante é a existência de cerâmicas, pois cada uma delas é responsável pela retirada de lenha (ver Figura 4 – Transporte da lenha retirada da vegetação) e argila. A primeira causa o desmatamento, enquanto a outra a degradação das várzeas.
A retirada de lenha não é somente restrita a indústria ceramista (ver Figura 5). Existem padarias que praticam essa atividade nos municípios. Também há a produção de carvão vegetal.
Figura 4: Transporte da lenha retira da vegetação.
Figura 5 – Indústria de cerâmica.
Algumas conseqüências vêem sendo observadas devido à prática da retirada da vegetação, como por exemplo, a variação das temperaturas diurnas e noturnas. Durante o dia a temperatura é bastante alta, enquanto que à noite, há uma diminuição brusca. É freqüente observado, durante a noite, o uso de agasalhos pelos habitantes das cidades, prática que não era vista a uns 7 anos atrás, segundo relato da população entrevistada nos municípios.
Outra é a relacionada aos sítios arqueológicos. Com o desmatamento, os mesmos ficam desprotegidos, facilitando a ação de vândalos. Comprometendo, dessa forma, a prática do turismo e o patrimônio público.
Assim, Ainda relacionada à indústria cerâmica, existe o problema da poluição atmosférica causada pelos gases emitidos. Não foi observada a existência de filtros nos estabelecimentos. E é freqüente, no início da manhã, a visualização da concentração de gases próximos ao solo, uma possível inversão térmica, em decorrência de temperaturas baixas quando comparadas ao restante do dia. Os principais rios das cidades encontram-se em processo de assoreamento.
  1. CONCLUSÃO
O levantamento realizado permitiu constatar que a degradação das áreas estudadas advém de uma serie de causas antrópicas e/ou naturais. Os desmatamentos, queimadas, monoculturas, pecuária e o uso indiscriminado de defensivos agrícolas ocasionam a escassez da fauna local, resultando assim na extinção de espécies nativas. Há também os fatores naturais, como elevada incidência solar, forte evaporação, seguida pelo ressecamento do solo, tornando-o impróprio para as atividades agropastoris e, concomitantemente, a ação do vento e declividade do relevo propiciam o desenvolvimento dos processos erosivos.
Juntamente com as causas foram observadas varias conseqüências derivadas do processo de desertificação. Entre eles estão o assoreamento de rios, a devastação de áreas de várzeas, poluição atmosférica, variações de temperaturas, danificação do patrimônio publico entre outros.
Dessa forma, é importante que haja uma solução para a conservação e o manejo adequado da área, é preciso que se tenha um conhecimento prévio da particularidade e fragilidade desse ecossistema, além do manejo apropriado dos recursos naturais, aplicação corretamente de medidas administrativas e de legislação obedecendo aos princípios ecológicos.
  1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FONTE: EBAH

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