quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TAMANHO DE ESTRUTURA DE DNA PODE PREVER EXPECTATIVA DE VIDA DE ANIMAIS SELVAGENS ( Artigo Científico )


Genética

Tamanho de estrutura no DNA pode prever expectativa de vida de animais selvagens

Pesquisa mostra que o tamanho do telômero presente no cromossomo de pássaros ajuda a prever quanto tempo o animal ainda pode viver

pássaro
'Acrocephalus sechellensis': pesquisa com o pássaro das Ilhas Seicheles mostra que parte do DNA pode determinar tempo de vida (University of East Anglia)
Uma pesquisa que será publicada nesta quinta-feira (22) na revista Molecular Biology mostra que a análise de estruturas presentes no DNA de um animal pode ajudar a prever sua expectativa de vida. Os pesquisadores da Universidade da Anglia Oriental, na Inglaterra, estudaram o tamanho do telômero presente nos cromossomos de 204 pássaros selvagens da espécie Acrocephalus sechellensis, que habitavam uma ilha isolada ao leste da África.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original:
Telomere length and dynamics predict mortality in a wild longitudinal study

Onde foi divulgada:
revista Molecular Ecology

Quem fez:
David S Richardson, Emma Barrett, Terry Burke, Jan Komdeur e Martijn Hammers

Instituição:
Universidade da Anglia Oriental, na Inglaterra

Dados de amostragem:
204 pássaros da espécie Acrocephalus sechellensis

Resultado:
Os pesquisadores mediram o tamanho dos telômeros nos cromossomos dos animais e os acompanharam até a morte. Analisando os dados, descobriram que telômeros mais curtos, e a velocidade dessa redução,  poderiam ajudar a prever a expectativa de vida de um indivíduo.
Os telômeros são estruturas encontradas no final de todos os cromossomos, que impedem a degeneração dos genes localizados nas pontas do DNA. Eles funcionam de modo parecido com as proteções de plástico nos cadarços. Pesquisas anteriores já haviam ligado o tamanho dessa estrutura à idade do indivíduo. "Ao longo do tempo e da divisão celular, esses telômeros começam a se quebrar e a se tornar menores. Quando eles atingem um tamanho pequeno demais, fazem com que as células onde estão alojados parem de funcionar", diz o pesquisador David Richardson, da Universidade de Anglia Oriental, um dos autores do estudo.
A pesquisa durou vinte anos e é a primeira a medir os telômeros nas células de uma população de animais selvagens ao longo de toda a vida dos indivíduos. Como resultado, os pesquisadores descobriram que cada animal apresenta uma taxa diferente de redução da estrutura. Além disso, os telômeros menores, independentemente da idade em que foram medidos, estão associados a aumento no risco de morte.
Segundo os pesquisadores, o tamanho do telômero pode ser usado como um melhor indicador da expectativa de vida do que a atual idade de um indivíduo. "Esse é um mecanismo que evoluiu para prevenir que as células se replicassem além do controle. No entanto, ele também tem um efeito adverso, e o crescimento das células em nosso organismo acaba levando à degeneração, ao envelhecimento, a problemas de saúde e até à morte", diz Richardson.

Saiba mais

TELÔMEROS
São as 'tampas' das extremidades do cromossomo, uma forma de proteção similar à presente nas pontas de um cadarço de tênis. Sempre que um cromossomo é replicado para a divisão celular, os telômeros encurtam. Esse encurtamento tem sido visto por diversos cientistas como um marcador biológico do envelhecimento, o relógio que marca a duração da vida de uma pessoa e sua condição de saúde.

Pássaros —  Os Acrocephalus sechellensis  são pequenos pássaros que vivem na Ilha Cousin, uma porção de terra pequena e isolada que faz parte da República de Seicheles, formada por um conjunto de ilhas no leste da África. Durante as últimas duas décadas, os pesquisadores retiraram amostras de sangue dos 205 animais duas vezes ao ano, e mediram o tamanho dos telômeros de cada um. "Nossa intenção era entender o que acontece ao com a estrutura ao longo de toda a vida. Por isso esses animais foram um excelente objeto de estudo. Eles ficam isolados em uma ilha tropical distante, sem nenhum predador, de modo que podemos seguir os indivíduos até a velhice”, afirma o pesquisador.
Como a população dos animais era razoavelmente estável — nenhum deles conseguia escapar da ilha — os pesquisadores conseguiram medir o tempo de vida de cada um deles e compará-los à última medida de seus telômeros. "Descobrimos que os telômeros pequenos, ou que estavam se encurtando rapidamente, ajudavam a prever quais pássaros poderiam morrer dentro de um ano. Também vimos que indivíduos que possuíam estruturas maiores tinham maior expectativa de vida", diz Richardson. 
A pesquisa também conseguiu descobrir que, apesar de o tamanho dos telômeros diminuir com idade, ele tem uma taxa de redução diferente em cada indivíduo. "Seu tamanho pode ser usado como medida da quantidade do dano que um animal acumulou. Ele pode ser um indicador melhor da expectativa de vida do que a idade cronológica, pois é capaz de registrar o quanto de seu tempo de vida o indivíduo já gastou", diz o pesquisador.
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Em humanos – Essa diferença no tamanho dos telômeros entre indivíduos da mesma idade acontece porque essas estruturas são atacadas pela oxidação, e o número dessas reações químicas varia conforme a história de vida de cada um. "Nos humanos, atos como fumar, se alimentar de comidas que não são saudáveis ou colocar o corpo sob extremo estresse físico e mental têm o efeito de diminuir os telômeros", diz Richardson.
O acúmulo dessas células desgastadas dentro de um mesmo tecido pode resultar na falha de um órgão e, consequentemente, na morte. No entanto, os pesquisadores ainda não sabem dizer se a longevidade depende diretamente dos telômeros ou se os telômeros mais curtos são apenas sinais de outros fatores que determinam a mortalidade.

FONTE: Revista Veja

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