quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ANÔNIMO ARREMATA CARTA DE EINSTEIN SOBRE RELIGIÃO POR U$$ 3 MILHÕES ( "Comportamento Humano" )

26/10/2012 - 12h04

Anônimo arremata carta de Einstein sobre religião por US$ 3 milhões

DE SÃO PAULO
Um comprador anônimo arrematou nesta semana, por pouco mais de US$ 3 milhões, uma carta do físico Albert Einstein (1879-1955), na qual o gênio alemão de origem judaica ataca a ideia de Deus, a Bíblia e o próprio judaísmo.
A venda foi feita pelo site de leilões e compras virtuais eBay. A carta, escrita à mão em alemão, foi enviada por Einstein ao filósofo judeu Erik Gutkind pouco antes da morte do físico.
Eis o que diz um dos principais trechos do texto:
"A palavra Deus é, para mim, nada mais do que a expressão e o produto das fraquezas humanas, e a Bíblia uma coleção de lendas honradas, ainda que primitivas, e que de qualquer maneira são bastante infantis. Nenhuma interpretação, por mais sutil que seja, é capaz de (para mim) mudar isso. Essas interpretações cheias de sutilezas são muito variadas, de acordo com sua natureza, e não têm quase nada a ver com o texto original. Para mim, a religião judaica, assim como todas as outras religiões, é uma encarnação das mais infantis superstições. E o povo judeu, ao qual fico muito feliz de pertencer e com cuja mentalidade tenho uma profunda afinidade, não tem nenhuma qualidade diferente, para mim, do que qualquer outro povo. Até onde vai a minha experiência, eles não são melhores do que qualquer outro grupo humano, embora estejam protegidos dos piores cânceres por sua falta de poder. Fora isso, não consigo ver nada de 'escolhido' neles." 

FONTE: Folha.com/Ciência
 

Golan Weiser/Reuters
Reprodução da carta de Einstein, escrita em alemão
Reprodução da carta de Einstein, escrita em alemão   

ASTRÔNOMO BRASILEIRO DESCOBRE "SUPERESTRELA" RARA ( Astronomia )

30/10/2012 - 05h05

Brasileiro descobre "superestrela" rara

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Um astrônomo brasileiro conseguiu encontrar, no meio das mais de 200 bilhões de estrelas da Via Láctea, um astro que é particularmente especial: uma grandalhona com pelo menos cem vezes a massa do nosso Sol.
E mais: a estrela parece ter sido "expulsa" da região em que se formou, estando agora isolada a cerca de 25 mil anos-luz daqui.
Astros tão maciços são difíceis de encontrar, pois são muito raros e têm vida relativamente curta.
"É como encontrar um grão de areia especial no meio de uma praia inteira", explica Alexandre Roman Lopes, autor da descoberta e pesquisador da Universidade de La Serena, no Chile. Ele é especialista em encontrar esses monstrengos espaciais.

Editoria de Arte/Folhapress
A estrela descoberta, batizada de WR42e, provavelmente tem elementos químicos essenciais à formação e desenvolvimento da vida como a conhecemos. E, na explosão que marca a morte das grandes estrelas, eles deverão se espalhar pelo espaço.
Por isso, explica o astrônomo, a descoberta poderá ajudar no "entendimento de como os elementos químicos se formam, e até a evolução da nossa própria galáxia".
Apesar de grandalhona, ela é novinha em termos galácticos: tem apenas 1 milhão de anos. Com 4,6 bilhões de anos, nosso Sol, por outro lado, já é um veterano.
A vida, no entanto, será bem mais curta para o astro.
Quanto maior uma estrela é, mais rápido ela consome o combustível de seu núcleo. Acredita-se que o fim da linha para esse parrudo objeto seja, na melhor das hipóteses, daqui a 1 milhão de anos. Praticamente amanhã quando se trata de astronomia.
DESPEJADO
A superestrela se formou no aglomerado NGC3603, localizado mais ou menos do outro lado da galáxia. A região é uma espécie de berçário estelar, onde vários astros se concentram em um espaço reduzido.
Tanta proximidade causa interações gravitacionais poderosas e, para o astrônomo brasileiro, foi numa dessas que a grandalhona acabou "chutada" para a periferia desse sistema.
Essa proposição foi publicada agora no "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society", baseada em observações do telescópio Soar, também no Chile.
Na opinião de Claudio Bastos, astrônomo do ON (Observatório Nacional) que não está envolvido com o estudo, a descoberta dessa gigante pode ajudar a revisar as teorias de formação estelar.
"É uma descoberta interessante, pois se trata de um objeto extremamente raro. A observação sempre coloca em xeque as teorias. Vamos ver até onde os modelos conseguem se encaixar", explica. 

FONTE: Folha.com/Ciência

terça-feira, 30 de outubro de 2012

GRANDES ÁRVORES DA CAATINGA NORDESTINA ( Imburana )


Imburana

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma caixa taxonómicaImburana
Imburana.jpg
Classificação científica
Reino:Plantae
Divisão:Magnoliophyta
Classe:Magnoliopsida
Família:Burseraceae
Género:Commiphora
Espécie:Commiphora leptophloeos
Nome binomial
Commiphora leptophloeos
(Mart.) J.B. Gillett
Imburana (Commiphora leptophloeos) é uma árvore nativa na caatinga, no pantanale no chaco. Seu nome popular se deve à corruptela das palavras em língua tupi y-mb-ú (árvore de água) e ra-na (falso), formando assim a palavra imburana (falso imbu).

Índice

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Características

  • Árvore resinosa de 6-9 metros, muito esgalhada, com ramos de crescimento tortuoso, dotada de espinhos agudos e fortes
  • Casca do tronco lisa, que se desprende em lâminas finas, muito irregulares, variando de cor conforme a idade da planta (verde quando jovem e laranja-avermelhado quando idosa)
  • Folhas alternas, compostas por 3 a 9 folíolos (geralmente 7)
  • Flores pequenas, de 3-4 milímetros de comprimento, verde bem claro, isoladas ou reunidas em pequenos grupos
  • Fruto globoso de 1,5 cm de diâmetro, de cor verde, com polpa agridoce e comestível quando bem maduro, contendo um única semente rígida e rugosa com diâmetro maior que 1 cm, negra em seu interior e branca na base, onde é coberta por um arilo vermelho

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Ecologia

Planta decídua, heliófita, xerófita, apresenta dispersão contínua, porém ampla. Tem suas sementes disseminadas por pássaros. Preferem solos calcários, bem drenados e profundos. Abelhas silvestres sem ferrão (gêneros Melipona e Trigona) fazem seus ninhos em troncos ocos de imburana. As primeiras flores aparecem no fim da estação seca (de novembro a janeiro), em ramos ainda desfolhados, mas acompanha o início da nova folhagem na estação chuvosa. Os frutos amadurecem de 4 a 5 meses depois, com o início da queda das folhas Se propaga por sementes e por estacas

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Importância

  • Fruto comestível quando bem maduro
  • Extração de óleo medicinal e chá da casca tônico e cicatrizante
  • Tronco e copa frondosa muito ornamentais
Detalhe das folhas e flores de imburana
Folhas compostas e frutos comestíveis verdes da imburana, mosrtrando a semente negra envolta por um arilo vermelho

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Bibliografia

Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidadesMAIA, G. N. D&Z Computação Gráfica e Editora, São Paulo, 2004
FONTE:  Wikipédia, a Enciclopédia Livre.

FELINOS DO FARAÓ DEIXARAM DESCENDENTES, AFIRMA ESTUDO ( Descobertas Arqueológicas Recentes )


29/10/2012 - 05h08

Felinos do faraó deixaram descendentes, afirma estudo


REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

As dinastias faraônicas que governaram o Egito por milhares de anos acabaram se extinguindo, mas o mesmo não se pode dizer de um personagem quase tão aristocrático do país do Nilo: o gato sagrado.
Ocorre que os felinos mumificados do Egito antigo deixaram descendentes na população moderna de bichanos do país, revela a primeira análise de DNA feita com múmias de gatos.
O estudo descrevendo a descoberta está na edição deste mês da revista especializada "Journal of Archaeological Science" e foi coordenado por Leslie Lyons, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Califórnia em Davis.
Essa não é nem de longe a única incursão de Lyons no mundo felino, porém. Ela participou, por exemplo, da equipe responsável por clonar um gato doméstico pela primeira vez, a gatinha Cc (de "cópia carbono"), em 2002.
"Fizemos o teste genético que mostrou que se tratava mesmo de um clone", disse Lyons, que batizou de "Lyons Den" (trocadilho com "toca do leão", em inglês) o site de seu laboratório, só para manter o clima felino.
MODELOS
Em conversa telefônica com a Folha, a pesquisadora explicou que ela e seus colegas se interessam por múltiplos aspectos da genética felina, em parte porque os bichos podem funcionar como bons modelos para doenças humanas, segundo ela.
No entanto, para mapear com precisão a história populacional e a variação genética dos bichanos, é interessante entender como essa diversidade surgiu.
"No caso do Egito e do Oriente Médio como um todo, por exemplo, será que a diversidade atual é representativa da que existia há milhares de anos? Imaginávamos que isso era possível, mas migrações humanas poderiam muito bem ter trazido populações de outros locais", pondera Lyons.
Foi para tentar testar isso que ela e seus colegas se puseram a estudar múmias de gatos, que foram produzidas literalmente aos milhões a partir do chamado Período Tardio egípcio (entre os anos 664 a.C. e 322 a.C.).
A prática atingiu seu apogeu, contudo, nos séculos seguintes, quando o Egito foi dominado pelos macedônios e pelos romanos. "A casta sacerdotal egípcia perdeu poder e riqueza. Passou a usar a 'produção' de múmias felinas como uma espécie de indústria", explica Lyons.
Creative Commons
Uma das representações egípcias da deusa-felina Bastet
Uma das representações egípcias da deusa-felina Bastet
Era uma indústria de oferendas, para ser mais preciso. Os antigos egípcios, no culto à Bastet ou Bast, sua deusa com cabeça de gato, ofereciam as pequenas múmias felinas como um presente à divindade.
Para atender à demanda por múmias, surgiram grandes criadouros de bichanos. Os animais eram sacrificados por meio de lesões na medula espinhal ou no crânio. O corpo dos bichos era ressecado com natrão, uma mistura de sais comum no Egito, e recoberto com óleos e resinas aquecidos. No fim, o felino ganhava até sarcófago.
MITOCÔNDRIA
Todo esse processo, embora preservasse a estrutura do corpo, acabou dificultando a vida de Lyons e seus colegas, porque atrapalhou a presevação do DNA. Os pesquisadores só conseguiram extrair material genético de três múmias felinas, a partir de ossos das patas e da mandíbula.
Esse DNA veio das mitocôndrias, as usinas de energia das células. Além de ser mais fácil de obter por estar presente em muitas cópias na célula, ele é útil para estudos genealógicos porque ajuda a traçar a linhagem materna (é transmitido apenas de mãe para filha ou filho).
A análise dessas sequências genéticas não deixou dúvidas: os gatos do Egito moderno ainda carregam linhagens de DNA mitocondrial presentes em seus ancestrais que viveram há 2.000 anos.
Mais importante ainda, para Lyons, a diversidade genética encontrada nos gatos egípcios antigos e modernos sugere que o povo dos faraós foi o primeiro a produzir raças domésticas de gatos.
Segundo ela, no entanto, é difícil dizer se eles foram os pioneiros na domesticação da espécie. "Nesse ponto, é difícil separar a diversidade do Oriente Médio como um todo da do Egito", afirma.
Editoria de Arte/Folhapress

Fonte: fOLHA.COM/cIÊNCIA 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

LISTA INTERNACIONAL DE ANIMAIS EM EXTINÇÃO REVELA BIOMAS EM PERIGO ( Meio Ambiente/Biodiversidade )


22/10/2012 - 17:09

Biodiversidade

Lista internacional de animais em extinção revela biomas em perigo

O tradicional documento da União Internacional para a Conservação da Natureza elenca as 25 espécies de primatas em risco de desaparecer nas próximas décadas pela pressão humana em seus habitats

Ricardo Carvalho
cebus kaapori macaco primata amazônia
Cebus kaapori, endêmico da região da Amazônia, corre risco crítico de extinção. De acordo com a pesquisadora Liza Veiga, do Museu Paraense Emílio Goeldi, a população da espécie foi reduzida em 80% ao longo das últimas três gerações, pouco menos de 50 anos (Marcelo Marcelino/ICMBio)
A tradicional lista de primatas mais ameaçados de extinção no mundo, divulgada bianualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUNC, na sigla em inglês), em parceria com outras entidades, trouxe em 2012 duas espécies brasileiras, o bugio-marrom (Alouatta guariba guariba) e o macaco-caiarara (Cebus kaapori). A escolha, anunciada na última semana, avaliam os especialistas, visa colocar em destaque internacional a situação de perigo não só desses dois primatas, mas dos biomas (conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna similares: a Amazônia e a Mata Atlântica, por exemplo, são biomas) onde eles vivem.
Cebus kaapori habita uma porção de floresta amazônica que se estende de Belém, no Pará, a São Luís, no Maranhão. O habitat do macaco, numa região conhecida por Centro de Endemismo Belém, onde começa o "arco do desmatamento", convive com índices intensos de derrubada de matas. De acordo com a pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi (Belém), Liza Veiga, o Centro de Endemismo Belém, uma das mais antigas ocupações humanas na Amazônia, tem 67% de seu território desmatado. "Ele (Cebus kaapori) é talvez o primata mais ameaçado da Amazônia, situação causada principalmente pela drástica redução de seu habitat", diz a pesquisadora. As matas remanescentes, bastante fragmentadas, estão em terra indígenas e em unidades de conservação, que vivem sob constante pressão humana.
Não se sabe ao certo quantos exemplares existem do macaco-caiarara. Liza calcula, no entanto, que a extração madeireira, a caça ou mesmo a derrubada seletiva de árvores tenha causado, ao longo das últimas três gerações – pouco menos de 50 anos –, uma drástica redução de 80% da população do animal. "Se o desmatamento continuar, há um alto risco de o kaaporidesaparecer nos próximos 30 anos."
Luis Paulo Pinto/ICMBio
alouatta guariba guariba primata iucn
Alouatta guariba guariba é o outro primata brasileiro na lista da IUCN
Mata Atlântica — O outro integrante brasileiro do levantamento é o bugio-marrom (Alouatta guariba guariba). Essa espécie, de acordo com Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação dos Primatas Brasileiros, foi escolhida por representar a perda da biodiversidade na Mata Atlântica, bioma que conta com somente 7% da sua cobertura original. "Hoje, cerca de 70% dos primatas que ocorrem na Mata Atlântica estão ameaçados", afirma Jerusalinsky.
Com uma população remanescente de apenas 250 indivíduos, espalhada em menos de 10 localidades com ocorrência confirmada, oAlouatta guariba guariba provavelmente foi extirpado da Bahia, segundo o especialista. “E a Mata Atlântica no Nordeste é justamente a mais vulnerável.” Acredita-se que as comunidades do Alouatta guariba guariba se estendiam até o Recôncavo baiano, mas a caça e a perda de habitat provavelmente as extinguiram nas áreas mais ao norte de Mata Altântica. Hoje, a população do macaco se concentra no vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. 
Existe pelo menos uma dezena de primatas brasileiros que se encontram em situação de risco crítico, semelhante às duas espécies que figuram na lista deste ano da IUCN. O bugio-marrom e o macaco-caiarara ainda são pouco conhecidos e não contam com programas de proteção específicos. Espera-se que a visibilidade dada pela lista contribua para a elaboração de projetos de conservação.   

Saiba mais

CENTRO DE ENDEMISMO
Cada setor da Amazônia possui o seu conjunto de espécies endêmicas. As áreas que possuem duas ou mais espécies endêmicas são denominadas centros de endemismo. 

ARCO DO DESMATAMENTO
Com 500.000 km² de terras, que incluem áreas do Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre, o "arco do desmatamento" é onde ocorrem os maiores registros de desatamento no Brasil.

LÊMURES
Primata endêmico de Madagascar, há 103 espécies de lêmures existentes. Pela intensa perda de habitat na ilha africana, os lêmures são considerados, pela IUCN, o grupo de primatas mais ameaçado do planeta.

                   
Uma ilha em perigo – O país em situação mais crítica no levantamento, entretanto, está a mais de 10.000 quilômetros do Brasil. A ilha de Madagascar, que se descolou da África continental há 160 milhões de anos, conta com seis primatas em risco de desaparecer na lista da IUCN. O número é maior do que o de toda a África continental (cinco espécies) e só perde para a Ásia (nove). 
Para se ter uma ideia do nível de ameaça de algumas espécies, o lêmure desportista-do-norte (Lepilemur septentrionalis), um dos animais malgaxes em situação mais ameaçada, conta com uma população estimada em apenas 19 indivíduos.
Russell Mittermeier é presidente da Conservação Internacional e do grupo de especialistas em primatas da IUCN. De um hotel em Hyderabad, cidade indiana onde aconteceu a Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas, Mittermeier explicou que os primatas de Madagascar sofrem com o intenso desmatamento de seu habitat. Como cerca de 90% da mata nativa do país foi derrubada, restou à população de primatas pouco mais de 60.000 quilômetros quadrados. "As pressões sobre as espécies são muito grandes", avalia o biólogo.
A perda de biodiversidade na ilha preocupa os cientistas. Por ter se separado do continente há milhões de anos, praticamente 100% das espécies de primatas são endêmicas – ou seja, só existem ali. "Madagascar não pode ser comparado com nenhum lugar do mundo, é um caso de endemismo espetacular. Os animais malgaxes estão separados de outros primatas do planeta por muitos milhões de anos", afirma o presidente da CI. A apreensão de Mittermeier só aumenta ao citar o atual quadro de instabilidade política no país. Um golpe militar em 2009 intensificou a atividade humana sobre as poucas matas remanescentes e interrompeu o financiamento internacional a projetos de preservação. 
"A quase completa ausência de fiscalização de qualquer lei ambiental levou a um surto vertiginoso de desmatamento ilegal e de caça de lêmures em todo o país. Muitas áreas que antes estavam razoavelmente protegidas, agora se tornaram unidades de conservação apenas no papel", diz Christoph Schwitzer, chefe de pesquisa da Bristol Conservation and Science Foundation, outra organização responsável por elaborar a lista. O país é o segundo com maior diversidade de primatas no mundo, atrás apenas do Brasil.

FONTE: Revista Veja

HOMINÍDEO DEMOROU PARA DEIXAR ÁRVORES, APONTA ANÁLISE ( Paleoantropologia )


26/10/2012 - 05h09

Hominídeo demorou para deixar árvores, aponta análise


RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

O processo de evolução que levou os ancestrais humanos a deixarem de viver sobre as árvores e se tornarem uma espécie totalmente adaptada ao chão foi mais lento do que se imaginava.
Uma nova análise mostra que o Australopithecus afarensis --ancestrais do Homo sapiensque viveram há mais de 3 milhões de anos-- continuou frequentando troncos e galhos com regularidade, apesar de já ser bípede.
Mais conhecidos pelo nome Lucy, fóssil de uma fêmea encontrado em 1974 na Etiópia, os australopitecos vinham desafiando cientistas até agora, porque o formato de seu braço era difícil de estudar em razão da falta de fósseis bem preservados. O novo estudo, liderado pelo anatomista David Green, da Universidade Midwestern, de Illinois (EUA), foi a primeira análise detalhada de uma escápula, osso que liga o ombro ao braço, encontrado em 2000.
Zeray Alemseged/Dikika Research Projec
Crânio de Selam, espécime do hominídeo Australopithecus afarensis que foi estudado
Crânio de Selam, espécime do hominídeo Australopithecus afarensis que foi estudado
Um análise do fóssil e uma comparação com macacos mostra claramente que a cavidade da escápula onde o braço se encaixa estava virada para cima, sinal de que Selam era adaptado para se pendurar em árvores. O estudo de Green tem o potencial de encerrar um debate antigo entre paleontólogos, pois muitos ainda defendem que o A. afarensis já passava o tempo todo no andar térreo. Segundo o americano, porém, há outras razões para se acreditar que o processo de adaptação ao chão foi mais longo e complexo.
"Os australopitecos tinham corpo muito pequeno, dentes caninos pequenos, e não produziam ferramentas e armas sofisticadas, se é que produziam alguma coisa", disse Green à Folha. "Como não tinham como se proteger dos predadores que estavam rondando pelo chão, provavelmente teriam de escalar árvores durante a noite. Além disso, a dentição deles sugere que ainda estavam se alimentado de frutas e outros produtos arbóreos, então, subir em árvores era importante para que adquirissem suas provisões."
O estudo de Green, publicado hoje na revista "Science" mostra como é difícil convencer a comunidade de paleoantropólogos a mudar de ideia sobre um assunto. Já se sabe desde as primeiras análises de Lucy que os australopitecos adultos tinham uma escápula apontando para cima, mas isso não convencia os cientistas de que os australopitecos ainda eram adaptados para a vida em árvores. Isso aconteceu porque os paleontólogos acreditavam que os adultos de A. afarensis tivessem uma forma meio "infantilizada" de esqueleto.
Humanos modernos têm a escápula virada para o lado, mas nossos bebês nascem com uma forma primitiva do osso, meio virada, e se transformam a medida que crescem. Criou-se a hipótese, então, de que a escápula de Lucy apontava para cima apenas porque seu corpo era pequeno como o de um juvenil. Estudando a transformação do osso da infância à vida adulta de macacos, dos australopitecos e de humanos, porém, Green mostrou que não é este o caso.
VÁCUO EVOLUTIVO
O estudo do cientista, agora, abre um vácuo no estudo da evolução humana, porque não existem escápula bem preservadas nas espécies que continuaram a linhagem que culminou no Homo sapiens. É possível que até o surgimento do Homo erectus, há "apenas", 1,8 milhão de anos, os hominídeos ainda fossem parcialmente adaptados às árvores.
"A medida que a historia evolucionária continuou, com o bipedalismo ficando cada fez mais importante, e a escalada de árvores menos importante, era de se esperar que essa forma primitiva da escápula fosse essencialmente perdida, mas acreditamos que isso seja apenas parte da história", diz Green. "Na verdade, muitas das características que vemos em humanos modernos têm a ver com a abilidade de manipular ferramentas e objetos na frente do corpo."
Habilidades como essa, talvez, são aquelas que teriam permitido aos humanos primitimos manipular armas e e construírem abrigos para se defender melhor dos predadores terrestres.
"Alguns traços da escapula humana moderna podem ter evoluído até mesmo a para explorar o espaço atrás do corpo", diz Green. "Para atirar uma pedra ou uma lança, é preciso mover o braço para trás, ao tomar impulso. Talvez seja por isso que nossa escápula tem a forma que vemos hoje."

FONTE: Folha.com/Ciência

domingo, 28 de outubro de 2012

GRANDES ÁRVORES DA CAATINGA NORDESTINA ( Caibreira/Caraibreira/Ipê Amarelo )


Craibeira, caraibeira.




Craibeira, caraibeira, ipê-amarelo-do-cerrado
Craibeira


Nomes populares: craibeira, caraibeira, ipê-amarelo-do-cerrado.
Ocorrência: Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Bolívia, Paraguai, Argentina.
FisionomiasCaatinga, Cerrado.
Características morfológicas: Árvore de 12 a 20m de altura. Copa com ramos terminais suberosos. Tronco de 30 a 100cm de diâmetro, casca acinzentada, com fissuras e cristas descontínuas e sinuosas. Folhas compostas, digitadas, opostas, cruzadas, decussadas, com 5 a 7 folíolos oblongos, elípticos ou obovados, cartáceos. Flores amarelo-ouro, tubulares, com até 8cm de comprimento, reunidas em inflorescências terminais. Frutos tipo síliqua, deicentes, cilíndricos, de parede delgada, medindo 14 a 18,5cm de comprimento, contendo cerca de 80 sementes. Sementes rosadas, achatadas, aladas.
Informações ecológicas: Espécie semi-decídua, heliófita, secundária. Tolerante a solos salinos. Ocorre, principalmente, em áreas de mata ciliar. Apresenta ornitofilia como síndrome de polinização. Dispersão das sementes pelo vento (anemocoria).
Fenologia: Floresce de forma explosiva entre os meses de agosto e setembro e frutifica entre agosto e outubro.
Coleta de sementes: Coletar os frutos diretamente da árvore quando iniciarem a abertura espontânea e em seguida deixá-los à sombra para completarem a abertura e liberarem as sementes. Uma alternativa para a coleta das sementes é o ensacamento dos frutos antes da abertura, quando ainda presos à árvore. Um quilograma de sementes contém aproximadamente 10.830 unidades.
Produção de mudas: Colocar as sementes para germinar, sem nenhum tratamento, em substrato organo-arenoso. A emergência das plântulas ocorre 8 dias após a semeadura e a taxa de germinação é de 80%.
Utilidades: Árvore ornamental, sendo largamente utilizada na arborização de praças e jardins. Cascas e raízes utilizadas na forma de chá como expectorante e anti-séptico. Indicada para recuperação de áreas degradadas em áreas de baixa pluviosidade.
Fonte: Guia de Campo de Árvores da Caatinga, José Alves de Siqueira Filho (Editor), Amanda Priscila Batista Santos, Maria de Fátima da Silva Nascimento e Fábio da Silva do Espírito Santo, Editora e Gráfica Franciscana/Universidade do Vale do São Francisco, Petrolina, 2009.

FONTE: Onordeste.com

sábado, 27 de outubro de 2012

QUEM SÃO OS PROFETAS DA CHUVA ? ( Cultura Nordestina )

Edição nº 03 » Profetas da chuva
 
BENS DE RAIZ 
PROFETAS DA CHUVA
Prestando atenção aos sinais da natureza, os profetas da chuva de Quixadá, sertão cearense, se reúnem todo ano para checar prognósticos de inverno ou de seca. E não anunciam boas chuvas para 2006. POR ELEUDA DE CARVALHO FOTOS francisco fontanelle
“CAJUEIRO ‘FULORANDO’ em janeiro, segurando maturi novo, é sinal de inverno tarde”, diz José Clementino, o dedo apontando a árvore carregada de frutos ainda verdes e flores em botão, à beira do açude Cedro. Ele era um dos “senhores do tempo” reunidos no X Encontro dos Profetas da Chuva de Quixadá, cidade a 175 km de Fortaleza, que ocorreu no dia 15 de janeiro de 2006.
Clementino e os demais sertanejos observadores dos fenômenos meteorológicos fazem parte de uma tradição agrária das mais antigas da civilização humana. Guardam na memória experiências que vêm de muito tempo, de quando a vida dependia exclusivamente da agricultura e as condições climáticas eram fundamentais à sobrevivência da comunidade. A previsão do tempo pela observação dos astros, das plantas, do comportamento dos animais está presente num livro como As geórgicas, do poeta latino Virgílio (século 1 a.C.), obra erudita que influenciou os popularíssimos livrinhos editados em Portugal desde a Idade Média e que chegaram, quase do mesmo jeito, até os dias atuais, no Nordeste brasileiro – os Lunários perpétuos. São eles as matrizes escritas que ainda orientam os profetas da chuva de Quixadá.
O calor é intenso nessa cidade cearense rodeada por monólitos majestosos, fósseis de uma montanha que ocupava parte da região, à margem de um lago salgado, que secou muito antes de a humanidade nascer. A beleza dessas pedras erodidas fez com que o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tombasse, em 2004, os monólitos de Quixadá como patrimônio natural. A rampa formada pela beira das rochas puídas pelo tempo é também um lugar perfeito para esportes radicais, especialmente o vôo livre. Desde 1988, Quixadá sedia uma das etapas do campeonato mundial. Além do turismo ecológico e dos esportes radicais, a cidade acolhe visitantes que vêm de longe venerar o santuário de Nossa Senhora Rainha do Sertão, no topo da serra do Urucum.
Quixadá também é a terra de Rachel de Queiroz, que ali viveu a vida sertaneja na sua fazenda Não Me Deixes. Próximo da cidade fica o açude Cedro, também um patrimônio preservado: foi construído ainda no Império e inaugurado há exatos 100 anos. Por isso, o Encontro dos Profetas foi bem ali, junto ao paredão do açude, talhado bloco a bloco, pedra por pedra, pelas mãos de escravos.
João Augusto de Sousa não é profeta, mas participa de todos os encontros, para orientar-se no plantio de sua minguada lavoura. Mas, como a maior parte do povo do campo, ele também observa a natureza, sabe ler os sinais. “De 1970 pra cá, tudo mudou. E agora, no século 21, acabou de mudar foi tudo. Eu não sei de nada, mas pelas carreiras do tempo, eu sabia que este ano ia ser igual ao que nós passemo, ou mais fino, né? Mas vamos esperar...”, diz ele, desencantado com o trabalho que exerceu a vida inteira. “Sou um produtor rural fraquim, nasci os dentes trabalhando no mato.
Mas deixei a agricultura, que não dá mais não. Dá não, senhora. É melhor guardar o dinheiro e comprar o mantimento, que sai muito mais barato. Planto uma coisinha só pra comer verde, que eu acho bom.” Seu João senta bem na frente, ouvido apurado, curioso para saber se, segundo os prognósticos dos profetas, vai adiantar ou não plantar “pra comer verde”, isto é, legumes e verduras nas várzeas úmidas, tudo o que restou do seu antigo roçado.
O encontro foi aberto com cantoria de viola, homenagens ao açude e depoimentos de pesquisadores, como a antropóloga da Universidade do Arizona Karen Pannesi, que há mais de um ano convive com os profetas, acompanha-os ao campo, toma nota de sua ciência empírica. Um dos homenageados por ela é Francisco Mariano Filho, o Chico Mariano, que tanto observa os astros para saber de inverno ou verão quanto para dizer sobre a personalidade de quem conversa com ele. “Você é de sol, nasceu de dia, não foi?”, diz o profeta, acertando.

Ele diz, sem hesitar, como pensa que será o inverno deste ano:
“O inverno é mesmo forte em março, o preparo das nuvens não está acontecendo pra ter inverno em janeiro. Qualquer ciência, nós estamos começando ainda. Eu queria ter o saber do cachorro, e eu não tenho. Chego na casa dele, cadê fulano? A esposa diz, foi pro mercado, foi pra tal canto. Aí eu vou perguntando, cê viu fulano? O outro diz, parece que eu vi, passou acolá. Eu saio mais o cachorro dele, o cachorro não pergunta a ninguém, vai direto pra donde está o dono”, filosofa. Chico Mariano, como seus colegas, tem a natureza como enciclopédia viva, dela nutre o corpo e a alma. “Cacei pouco, porque fui prestando atenção à natureza, a sabedoria dela, como é grande”, diz o velho, olhos marejados. Mariano começou a observar o tempo ainda menino. “Por perca de roçado. O papai se mudava, quando o tempo era ruim. Isto é cultura antiga, há mil anos que o homem tem estas experiências. Muitos pássaros, muitas coisas que conheci, hoje são difícil a gente ver. Mas a natureza não mudou, nós é que muda, é que aprende mais, conversa mais. Mas a natureza foi formada antes, viveu milhões de anos só, sem o homem.”

Entre tantos “cientistas” matutos, um engenheiro, economista e astrônomo está ali para aprender, como diz, sem falsa modéstia, apesar dos mais de 30 anos dedicados à observação do clima. É Caio Lóssio Botelho, uma referência nacional nos estudos climáticos. “Das dez reuniões, nunca perdi nenhuma. Estes homens prestam um serviço inestimável não só à cultura, mas até à ciência.
O estudo da previsão das secas é uma necessidade. A seca não deve ser estudada apenas com a razão, mas também com a intuição. Por isso valorizo todos os profetas que se reúnem neste momento. O Homo sapiens tem dois instrumentos na busca da verdade. Um é a razão, o estudo crítico da reflexão do hemisfério cerebral direito. O outro é o da intuição, instrumento que faz parte da estrutura biofísica e psicológica, e que tem sua razão de ser.
A intuição tem levado aos homens uma série de informações em benefício da humanidade. O próprio Einstein utilizou a intuição para fechar a Teoria da Relatividade.”
Caio Lóssio não contou apenas com o saber acadêmico para embasar suas observações. “Elas foram fruto da minha vivência no sertão do Ceará. Meu pai era juiz e serviu em vários municípios, desde o Cariri até a faixa do litoral. E desde jovem acompanhei o sofrimento do agricultor, e aquilo calou profundamente no meu espírito.

Resolvi me dedicar de corpo e alma à pesquisa da seca. E tenho a coragem moral de declarar que os profetas, realmente, têm contribuído profundamente para uma evolução da perspectiva de projeção de seca e de chuva de nossa quadra estacional”, diz. Sobre os prognósticos para este ano, Lóssio comunga com os observadores sertanejos. “O hemisfério sul, pela primeira vez, rompeu o equilíbrio ecológico. Até 2005, você não tinha ouvido falar de ciclone e outros fenômenos de natureza física no hemisfério sul. Isso não existia, foi decorrência da imprudência do homem. O desequilíbrio no hemisfério norte vem desde o século 19, com a Revolução Industrial. Por conta disso, tive que mudar meus cálculos. Mas afirmo que o inverno deste ano começa a partir de 21 de março, com a passagem do equinócio, e deve se estender por todo o mês de abril, maio e, quem sabe, até o mês de junho”, diz.
O PROFETA JOSÉ CLEMENTINO de Almeida vive no município de Ocara, próximo a Quixadá, mas participa dos encontros desde a primeira vez. Para ele, este ano vai ser de um “invernim mei lá e mei cá”. Clementino afirma que inverno bom, só de 2010 em diante. “Eu tenho experiência com o vento, no quarto que eu durmo. Ao meidia, almoço, me deito, abro um radim que eu tenho lá. A porta de entrada fica aqui, aí o vento, pá! Eu digo, quase cochilando, ai, meu Deus do céu! Esta porta não é pra fechar à força, é pra abrir. Quando está próximo de chover, eu abro a porta, a porta bate na parede, pá-pá-pá. É sinal que vem chuva, comadre”, diz o profeta, que além do vento também tem experiência “com os passarim, com sapo, com as lagartas, com borboleta, com tudo quanto tem em riba do chão”.
Clementino conta as observações que fez, para abalizar sua opinião: “O Natal deu uma boa experiência com o inverno, mas deixa lá, que o Natal é do ano velho.

Fui pegar experiência da virada do ano, não gostei. A barra da virada do ano foi quase nada, deu um fuá no tempo, só um encapamento nas nuvens. Esperei o nascer do sol. Quando o sol apontou, olhei lá, lá onde ele tava era uma roda grande, do tamanho de uma tarrafa de 12 palmos, não tinha uma nuvem. Isto, num vermelhão da cor de sangue. Eita, que eu não esperava isso! Sinal de inverno bem fraquim. A estrela-d'alva [o planeta Vênus] passou pro nascente, e ela não resulta bem lá, nós não temos um inverno que preste. Pode escrever que eu assino. Eu não estudei pra isso, mas tenho o dom que Deus me deu”, diz.
Dos profetas presentes naquela manhã de sol ardente, só um tinha menos de 70 anos e não era agricultor, o contabilista José Erismar Nobre da Silveira. “Mas sou filho de agropecuarista, fui criado no sertão.

Os anos de estiagem maltratavam a gente, e eu, conversando com as pessoas de conhecimento, comecei a observar, isto está com uns 30 anos. Mas estou aprendendo, ainda”, diz ele. Erismar observa as nuvens, a neblina em certos dias, as noites de garoa do mês de setembro. Também observa as estrelas, especialmente a estrela-d'alva, “que é muito importante. Se ela fica assim chorosa, com uma nuvenzinha muito rala, o inverno é pouco”. Do que farejou nos caminhos do céu, Erismar diz que haverá chuvas localizadas em fevereiro, mas em março o inverno se confirma. “Em abril, me dá uma preocupação, porque deu um período de estiagem, pelas minhas experiências. Mas se chover no 28 de fevereiro ou 1º de março, a estiagem vai ser pouca. Em maio chove, e é capaz de o inverno ir até a fogueira de São João.”
A platéia, especialmente os pequenos produtores presentes, parece suspirar com certo alívio. Mas entra em cena um dos mais famosos profetas do Quixadá, Chico Leiteiro, que desde os dez anos de idade lê o movimento dos astros, as folhas das plantas, o vôo dos pássaros, o rastro dos bichos da terra, que lhe dizem tão claramente do tempo que virá como se estivesse munido da mais fina tecnologia. Chico Leiteiro só estudou o bastante para devorar velhas edições do Lunário perpétuo. Ele não costuma errar a profecia.
Para 2006, ele prevê uma quadra invernosa “mais ou menos”. Quem lhe contou foram os passarinhos, especialmente os rouxinóis, “que já estão cantando, fazendo ninho. O gavião vermelho já está se aproximando do sertão, é sinal que a chuva não demora. Os tetéus também já estão fazendo enxurrada, cantando, [o tetéu] é o melhor profeta que nós temos. Meio-dia, de tarde, eles revoam, téu-te-téu, é sinal que o tempo vai mudar. Mas ninguém nunca pode divulgar tudo que a gente vê, que as experiências que temos são muitas e não gosto de dar notícia ruim. Confio que há de ter inverno, porque a era de seis [data terminada em seis: 1996, 2006 etc.] nunca negou. E que Deus abençoe todo mundo”, diz Chico Leiteiro, se despedindo.
CLIMA DE ANSIEDADE COLETIVA
O profeta Chico Leiteiro, que tudo vê, não gosta de dar notícia ruim. Está aí uma pista para se entender a real importância dos profetas
da chuva para os agricultores do sertão nordestino. Mais do que fazer previsões acertadas, o que se espera desses leitores da natureza,
no fundo, é a capacidade de mitigar a ansiedade que se forma diante da incerteza do clima. Para isso, prognósticos crípticos, ambíguos
e até omissões podem ter um valor muito maior do que as probabilidades meteorológicas. Essa é a opinião do antropólogo Renzo Taddei,
que já estudou o simbolismo da água e da chuva no sertão cearense, pela Universidade de Columbia, em Nova York, e atualmente colabora com pesquisas da Funceme – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos.

Os agricultores do sertão se relacionam com os profetas da chuva do mesmo modo que com a meteorologia oficial?
Nos dois casos, é uma relação bastante difícil. Ambos canalizam para si uma grande ansiedade coletiva. Só que a meteorologia não administra bem essa ansiedade, porque não comunica de forma clara o que faz e o que se pode esperar dela, então as expectativas da população acabam sendo pautadas pelo discurso profético. Se um profeta diz que pode prever exatamente o dia em que vai chover, espera-se
que a meteorologia faça o mesmo, ou melhor.

E de que maneira os profetas administram essa ansiedade?
Eles têm uma tendência a fazer bons prognósticos. Não que sempre o façam – este ano é um exemplo em que boa parte deles anunciou
um prognóstico ruim. Mas em 1997, 1998 e 2005, todos com chuva bem abaixo do normal, a maioria anunciou boas chuvas. É compreensível: há diversos casos de profetas que foram acusados de causar a seca, apenas por tê-la prognosticado.

Preferem errar a dar notícia ruim.
Erram, mas não perdem o reconhecimento dos agricultores. Até porque às vezes não dá nem para dizer se alguém errou ou acertou
a previsão. Se um diz que o inverno vai ser “velhaco” ou “desmantelado”, é difícil traduzir isso em chuvas.

De onde vem esse conhecimento empírico do clima e como ele pode ser utilizado na viabilização do semi-árido?
Existem métodos usados pelos profetas do Nordeste que já eram conhecidos no Oriente Médio há milênios, que provavelmente chegaram à Península Ibérica com os árabes e os judeus, e de lá vieram para as Américas. No México e na Espanha, por exemplo, é comum o método das cabañuelas, usado pelo profeta Chico Mariano em Quixadá: alguns dias de estação seca são indicadores para a estação chuvosa. No caso de Chico Mariano, o 1º de julho representa janeiro do ano seguinte.

Mas não dá para dizer se “esse conhecimento empírico” tem potencial porque não há um conhecimento único. Existem diversos métodos populares de prever o clima. Enquanto o profeta chamado Epifânio faz prognósticos baseado na interpretação de sonhos, Chico Leiteiro observa o comportamento dos insetos e animais, Paulo observa estrelas e a posição da sombra do sol durante a estação seca. Alguns desses métodos têm valor de fato, e deveriam ser melhor estudados no mundo inteiro.

FONTE: Revista RAIZ

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

NA TRILHA SUSTENTÁVEL DOS INCAS ( Cultura Mundial ) "A civilização inca é resultado de uma sucessão de culturas andinas pré-colombianas e um estado-nação, o Império Inca, que existiu na América do Sul do ano 1200 até a invasão dos espanhóis, em 1533"


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Na trilha sustentável dos incas

A civilização inca é resultado de uma sucessão de culturas andinas pré-colombianas e um estado-nação, o Império Inca, que existiu na América do Sul do ano 1200 até a invasão dos espanhóis, em 1533

Célio Bermann

 
fotos Célio  Bermann

FONTE: Revista Planeta Sustentável 

COZINHAR COMIDA AJUDOU CÉREBRO A SE DESENVOLVER, AFIRMA ESTUDO ( Artigo Científico )


23/10/2012 - 05h15

Cozinhar comida ajudou cérebro a se desenvolver, afirma estudo


FERNANDO MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um artigo publicado hoje na revista científica "PNAS" dá apoio à tese de que cozinhar comida foi determinante para o desenvolvimento do cérebro humano.
Duas pesquisadoras da UFRJ, Suzana Herculano-Houzel, colunista da Folha, e Karolina Fonseca-Azevedo, mostraram que uma dieta baseada em comida crua impôs limitações energéticas aos grandes primatas, criando um "dilema" para o corpo entre o crescimento da massa corporal e o do cérebro.
Isso explicaria o fato de que grandes primatas possuem corpos desproporcionalmente grandes em relação aos seus cérebros.
"Outros grupos já haviam indicado que o cérebro custa caro em termos de energia e sugerido que esse custo teria influenciado nossa história evolutiva, mas ninguém havia ainda determinado se esse custo era de fato relevante e limitante em termos fisiológicos", disse Suzana à Folha.

Ela explica que nossas habilidades mais sofisticadas não são o resultado de o "cérebro ser maior do que deveria, dado o tamanho do nosso corpo", e sim do número absoluto de neurônios --86 bilhões no cérebro humano.
Suzana já havia mostrado, em artigo científico publicado no ano passado, que acrescentar neurônios ao cérebro, aumentando o tamanho do órgão, custa ainda mais caro do que se imaginava em termos de energia.
No estudo publicado agora, as pesquisadoras desenvolveram um modelo que relaciona o número de calorias ingeridas numa dieta de comida crua à quantidade de energia necessária para o crescimento da massa corporal e do correspondente número de neurônios.
Elas conseguiram, dessa forma, estipular o número de horas que grandes primatas teriam precisado para desenvolver um corpo avantajado e um número grande de neurônios no cérebro.
Mostraram, assim, que teria sido insustentável para gorilas e orangotangos, entre outros, com as horas de alimentação de que dispõem, adquirir calorias em número suficiente para tal tarefa.
"Humanos e grandes primatas são o resultado atual de duas linhagens diferentes, com duas estratégias diferentes de investimento energético: ou um corpo enorme, às custas de abrir mão de um número maior de neurônios, ou um número grande de neurônios às custas de um corpo menor", diz ela.
"As duas estratégias são visíveis na linhagem que levou aos grandes primatas e aos primeiros exemplares do gênero Homo [o do homem]."
MUDANÇA ALIMENTAR
As conclusões do artigo fortalecem a tese do primatologista britânico Richard Wrangham, que defende que um dos momentos mais importantes da evolução humana foi a invenção da comida cozida, mais fácil de mastigar, de digerir e de ter suas calorias absorvidas.
"Sugerimos que foi por causa de uma mudança qualitativa na alimentação que a limitação energética da nossa linhagem --que já vinha investindo em mais neurônios e menos corpo-- foi contornada", acrescenta Suzana.
"Além de aumentar a capacidade calórica e tornar as limitações metabólicas prévias irrelevantes, cozinhar também teria aumentado nosso tempo disponível para atividades sociais e que demandassem maior poder cognitivo", escrevem as pesquisadoras no artigo.

FONTE: Folha.com/Ciência
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress