segunda-feira, 16 de julho de 2012

AMAZÔNIA JÁ TÊM "DÍVIDA DE EXTINÇÕES, AFIRMA PESQUISA BRITÂNICA ( Meio Ambiente )

 
12/07/2012 - 19h23

Amazônia já têm "dívida de extinções", afirma pesquisa britânica

RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
Atualizado às 20h17.
O desaparecimento de alguns animais das áreas onde costumavam viver na Amazônia é algo que passa sem ser notado hoje, mas esse é um fenômeno que deve se tornar cinco vezes mais grave. "Cenários realistas sobre desmatamento sugerem que, em 2050, regiões locais terão perdido em média nove espécies de vertebrados e condenado outras 16 à extinção", afirma uma nova pesquisa.
Apesar de a floresta amazônica já ter pedido, como um todo, 17% de seu território, cada pequeno pedaço de terra na região perdeu em média apenas 1% das espécies de aves, anfíbios e mamíferos que possuía.
Editoria de Arte/Folhapress

Um trio de ecólogos do Imperial College de Londres explica agora por que isso ocorre: a maioria das áreas está "devendo", em média, 5% de extinções para o futuro, e a situação pode piorar.
Em estudo na revista "Nature", os cientistas explicam que essa "dívida de extinções" ocorre em razão de alguns animais conseguirem evitar o sumiço logo de cara.
À medida que o tempo passa em uma área parcialmente desmatada, porém, populações de aves, mamíferos e anfíbios vão diminuindo a cada geração, e no final algumas acabam sumindo.
O trabalho publicado agora, liderado pelo ecólogo Robert Ewers, calcula quantas espécies são perdidas no curto e longo prazo, à medida que uma área da Amazônia é desmatada.
No estudo, os autores tratam apenas de fenômenos locais, analisando o que aconteceria em média com um terreno de 2.500 quilômetros quadrados na Amazônia. As previsões sobre extinções totais, porém, já começaram a ser feitas.
"Nós rodamos o modelo tentando prever extinção global também, e no cenário 'business as usual' [em que o ritmo de desmatamento segue quase sem controle da lei], terminamos com algo em torno de 45 espécies sendo extintas e mais de 100 sendo condenadas à extinção", disse Ewers à Folha. "Sob um cenário de governança [em que há intervenção mais forte do governo contra o desmate], claro, os números serão muito menores."
As extinções globais de espécies seriam mais numerosas que as locais porque muitas espécies amazônicas são endêmicas --só existem numa área muito restrita. Isso significa que não é preciso uma devastação muito ampla para fazer com que muitas delas desapareçam por completo.
Em um artigo comentando o estudo de Ewers, Thiago Rangel, ecólogo da Universidade Federal de Goiás, elogia o método estatístico criado pelos britânicos para medir o risco que o desmatamento implica para a biodiversidade.
"Antigamente a gente olhava para o mapa da Amazônia e via apenas quais regiões estão mais desmatadas e quais estão sofrendo desmatamento naquele momento", afirma, explicando que esse era o único tipo de informação crucial usado para guiar ações de conservação. "Agora é possível olhar para o mapa e enxergar uma medida combinada de desmatamento e de riqueza de espécies também."
Segundo Rangel, porém, os cenários de desmatamento com que Ewers trabalha podem ser comprometidos no futuro. Um problema é o estado de definição do novo Código Florestal --a lei que determina quantas e quais partes da mata os fazendeiros podem desmatar.
Ayrton Vignola - 17mai.05/Folhapress
Desmatamento em Moraes Almeida (PA) mostra que devastação da Amazônia ocorre também dentro de áreas de mata preservada
Desmatamento em Moraes Almeida (PA) mostra que devastação da Amazônia ocorre também dentro de áreas de mata preservada

O outro é o movimento para reduzir áreas de conservação para acomodar represas de hidrelétricas. No fim, pode ser que o cenário considerado mais realista pelos britânicos passe a ser otimista demais.
Rangel também destaca que é difícil prever quando a "dívida de extinção" de uma área parcialmente desmatada será saldada. "Uma espécie de anfíbio vai ser afetada em cinco gerações, o que pode variar de três a quatro anos", diz. "Já uma espécie de mamífero de grande porte, com maior capacidade de locomoção e dispersão, pode resistir por até 50 anos."
Apesar das limitações, Ewers defende que o conceito que criou deve ser usado para planejar ações de conservação, incluindo a preservação de mata que cresce em fazendas abandonadas na Amazônia: "Claro que nosso método carrega um grau de incerteza, mas ele nos dá o poder de imaginar cenários e ver o que vai acontecer de 40 a 50 anos no futuro em algumas áreas, em razão das decisões que são tomadas hoje", afirma.

FONTE: Folha.com/Ciência

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