sexta-feira, 7 de maio de 2010

OS PRIMEIROS NORDESTINOS

     Os primeiros homens que chegaram ao Nordeste Brasileiro eram, pelos dados que até agora possuímos, como os índios atuais.Racialmente perteciam a grupos mongolóides como, aliás, todos os habitantes das Américas anteriores a colonização européia. Dentro das naturais variedades, existe, portanto, uma homogeneidade indiscutível nos diferentes grupos humanos brasileiros, o que identifica todos os índios sul-americanos como oriundos de uma mesma origem. mas, se os primeiros habitantes já haviam chegado ao Piauí por volta de 50 000 anos, poderia tratar-se de grupos pré-mongolóides que evoluíram já nas Américas ou que se extinguiram.
     Admite-se que os índios brasileiros chegados ao Nordeste são os descendentes de levas arcaicas, que atravessaram o estreito de Bering alguns milhares de anos antes. Mesmo que, periodicamente, levante-se a conjetura da existência de outras vias de acesso, que poderiam ter dado lugar à chegada na América de grupos humanos em épocas pleistocênicas, nada pode ser provado até o momento.
      Os grupos humanos que atravessaram o Pacífico e chegaram às costas orientais americanas já deviam possuir tecnologia neolítica e não são anteriores a 5 000 BP, a julgar pelas evidências conhecidas. Quanto à possibilidade de uma via transatlântica de chegada pré-histórica  ao Brasil, mesmo se tratando de uma conjetura sugestiva, a teoria não apresenta, por enquanto, apoio científico.
       O grande drama da pré-história americana é o escasso número de restos humanos que poderiam ser atribuídos, com certeza, às épocas pleistocênicas muito antigas.No caso brasileiro, como dito anteriormente, nenhum resto humano é anterior a 12 000 anos BP. Mas o fato de que não se tenham encontrados esqueletos humanos com datas anteriores não contradiz as evidências da ocupação humana no Nordeste em datas muito anteriores aos achados ósseos. As terras ácidas existentes no solo brasileiro e as grandes áreas do trópico úmido, pouco propícias à conservação de ossos, os ritos de incineração dos cadáveres, a pouca densidade demográfica e a falta de pesquisas, são fatores negativos na frequência de achados esqueletais humanos.
        Embora os vestígios da cultura material sejam suficientes para a determinação de um grupo étnico, não podemos esquecer que, através da análise das amostras ósseas, uma infinidade de dados pode ser acrescentada para se completar o perfil cultural de um determinado grupo pré-histórico. Através do estudo da patologia pode-se reconhecer a nutrição, as moléstias, a longevidade e a pàleo-demografia das populações. A localização e a escavação sistemática de uma necrópole pré-histórica pode ser, às vezes, muito mais ilustrativa para o conhecimento da pré-história de uma região do que o estudo de sítios de habitação, especialmente quando no trabalho de campo houve perfeito entrosamento entre o arqueólogo e o antropólogo físico.
         Os aspectos vestigiais que caracterizam a pré-história podem ser especialmente ricos e ilustrativos no estudo das necrópoles. Além dos aspectos puramente biológicos, eles fornecem numerosos dados relativos à hierarquia, adornos e rituais fúnebres, restos de alimentos procedentes do banquete fúnebre ou das oferendas, que são informações de grande valor para se complementar o estudo da antropologia física dos antigos habitantes do Brasil. Outro fator de suma importância dentro do contexto arqueológico das necrópoles, é a possibilidade de datações absolutas diretamente dos ossos humanos, pelo carbono 14, nitrogênio e flúor, além das bases alimentares fornecidas pelo carbono 12 e 13.
         Num sítio arqueológico, depedendo da formação do sedimento e de agentes externos, existe a possibilidade de que elemntos culturais intruivos por percolação, sejam considerados contemporâneos das datações obtidas dos carvões das fogueiras e associados erradamente a elas. A partir de ossos, pelo contrário, qualquer datação obtida é inquestionável e independentemente do seu universo cultural, é possível situar um indivíduo no seu tempo.
          Caberia agora se perguntar que tipos humanos povoaram e se adaptaram à região semi-árida do Nordeste brasileiro. Sobre os habitantes do litoral, que entraram em contato com portugueses e franceses, existem muitos relatos e crônicas que os retratam com maior ou menor aproximação, inclusive com grande quantidade de desenhos e gravuras como é o caso muito conhecido de Hans Staden, um jovem marinheiro alemão que viveu entre os Tupinambá, na primeira metade do século XVI, deixando no seu relato "Viagem ao Brasil", valiosa documentação gráfica dos usos, costumes, e aspecto físico desse índios.Porém, geralmente, esses relatos carecem de valor científico em termos de antropologia física. Sobre outras regiões do Brasil existem estudos de  populações humanas tais como o Homem de Lagoa Santa, que deu origem a toda uma raça sul-americana, ou os estudos sobre o Homem do Sambaqui, bastante completos.
          Em menos de dez anos, o conhecimento das populações pré-históricas do Nordeste teve significativo aumento. Para isso contribuíram as escavações de três importantes necrópoles pré-históricas, em Pernambuco, em Sergipe e no Rio Grande do Norte, além dos achados do SE do Piauí.

Fonte: PRÉ-HISTÓRIA DO NORDESTE DO BRASIL (Gabriela Martin)

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